Gazeta do Nordeste

Mais jornalismo, menos repressão!

*Francisco Gonçalves da Conceição, secretário de Estado dos Direitos Humanos e Participação Popular, pai de Rafael e Gabriel e filho de Antônio e Sofia.

No momento em que, seguindo as orientações das autoridades sanitárias, estamos nos recolhendo às nossas casas, me vem à memória um slogan que ganhou as ruas do Brasil: “ninguém larga a mão de ninguém!”. Mas, já que a orientação das organizações de saúde é evitar o contato físico, durante a pandemia, como podemos, então, segurar a mão do outro para expressar nossos afetos? Como podemos nos manter conectados com os outros para expressar o nosso amor pela vida?

Embora a gente adore abraçar, beijar, cheirar, tocar, existem outras maneiras de nos mantermos conectados uns com os outros, alimentando nossas necessidades de troca de energias, informações, sentimentos, solidariedades. E é exatamente por isso, para evitar o sentimento de solidão e desamparado, que precisamos continuar juntos, um ajudando o outro a superar esta crise sanitária e econômica. E existem várias maneiras de fazer isso, maneiras generosas, solidárias e afetuosas.

Penso, por exemplo, nos profissionais de saúde, que estão se dedicando a cuidar de todos, e dos pesquisadores das universidades, que nos laboratórios pesquisam uma vacina contra o coronavírus. Muitos profissionais de saúde estão se oferecendo nas redes sociais para prestar informações seguras, confiáveis e úteis às pessoas; outros fecharam seus consultórios particulares para se dedicarem exclusivamente à rede pública, fundamental para conter o avanço do vírus e cuidar das pessoas.

Além dos profissionais de saúde, outros profissionais de serviços essenciais, como policiais, bombeiros e garis, estão também na linha de frente pra evitar a proliferação do vírus pelo estado, pelo país, pelo mundo. Não obstante todas as medidas de segurança adotadas, conforme recomendações da OMS, eles também estão expostos a riscos e preocupados com a segurança de suas famílias, vizinhos, amigos e colegas. Pois quem ama cuida, protege, se protege e se preocupa com o outro.

Líderes religiosos suspenderam atividades comunitárias e litúrgicas em igrejas, terreiros, salões para evitar a contaminação das pessoas. Os fiéis, de acordo com as suas crenças, foram orientados a ficar em casa e participar das orações, via rádio, TV e internet e têm viralizado momentos emocionantes de comunhão na web. De imperatriz, a Assembleia de Deus manda uma linda mensagem: além de suspender os cultos, ofereceu ao Estado o seu templo para ajudar a combater o vírus.

Os bispos da Igreja Católica suspenderam as atividades e celebrações comunitárias e recomendam que os fiéis permaneçam em casa, evitando aglomerações e participando das celebrações por rádio, TV e web. A Casa Fanti-Ashanti, a Casa de Nagô e outros terreiros de Umbanda, Candomblé, Mina e Terecô também, suspenderam as suas atividades, orientando a todos a permanecer em casa. Comunidades espíritas organizaram grupos de reflexão nas redes sociais.

Atendendo ao decreto do governador Flávio Dino, os empresários fecharam shoppings, restaurantes e bares. Continuarão abertos farmácias e estabelecimentos que vendem produtos alimentícios e material médico-hospitalar. Aliás, quem ama reparte! Não é preciso comprar tudo! Outras pessoas também precisam de comida, de remédios, de produtos de higiene. Todas as pessoas precisam se alimentar bem e cuidar bem da saúde para proteger a coletividade. Cabe a todos nós o exercício diário da solidariedade para vencermos a crise e sairmos mais fortes dela.

Estudantes em isolamento voluntário também podem e têm ajudado de várias maneiras: cuidando dos mais velhos e das crianças, combatendo fake news. Muitos estão se oferecendo para fazer compras para as pessoas que não podem sair de casa ou que fazem parte de grupo de risco – maiores de 60 anos, hipertensos, diabéticos, pessoas com deficiência, entre outras. Um exercício de solidariedade que certamente vai impactar positivamente nossas próximas gerações.

O título desse artigo é uma adaptação do belíssimo romance de Gabriel Garcia Marques, Amor em tempo de Cólera, que narra o romance de Florentino Ariza e Fermina Daza. Gabriel conta essa história pra falar da força do amor sobre a morte. Em momentos de crise, não podemos sucumbir à desesperança, por isso tenho certeza de que vamos fazer da solidariedade, do cuidar de si e do outro, uma belíssima história comunitária de amor.

#FiqueEmCasa

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.